segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tristeza e indignação

     
   

 Candido Portinari, Cabeça, 1955.


          Há algumas semanas, ao abrir o link de um conceituado jornal da cidade, não pude conter minha indignação frente à notícia que informava sobre a morte de mais um coletor de materiais recicláveis.  O local, as vítimas e as características do crime eram semelhantes. Ambos os casos ocorreram na região do Brás e as vítimas coincidentemente foram encontradas carbonizadas dentro de suas carrocinhas. Apesar da similaridade a polícia investiga se o ocorrido tem origem criminosa.
           O que mais me chama a atenção é a simplicidade com a qual  notícias como estas são apresentadas ao público e da pouca ou nenhuma repercussão nos meios de comunicação de massa.  O tratamento dado aos casos denuncia a indiferença frente à vida destas pessoas que por razões diversas vivem em situação de rua e têm como teto um pedaço de papelão.
           Não se sabe a motivação do crime, mas seja qual for revela a frieza e a perversidade de um indivíduo incapaz de lidar com a sua infelicidade, e que, ao dar fim a vida de um outro sente-se realizado ao ver  transformando-se em fumaça aquilo que representa sua própria miséria.

sábado, 7 de maio de 2011

O prazer da brincadeira

Candido Portinari, Meninos soltando pipa, 1952.


            Muitos daqueles que escrevem sobre cultura e educação tratam a brincadeira como uma aquisição cultural, ou seja, uma ação ensinada e aprendida por meio das interações entre os sujeitos. Tal pressuposto tem servido à educação no sentido de sensibilizar os profissionais da área para a importância do brincar e das  brincadeiras em contexto pedagógico, sobretudo, na primeira infância. Em tese, alertam sobre seus benefícios para a construção de um sujeito saudável, bem como recomendam a prática como coadjuvante no processo civilizatório. O acesso aos conhecimentos é abundante, haja vista, a imensa produção acadêmica sobre o tema. Entretanto, a prática ainda permanece obscura, pelo simples fato de haver uma distância considerável entre conhecer e saber.
            A gente pode ter conhecimento sobre vários assuntos, mas saber é diferente. O saber está relacionado  à experiência. Ninguém em sã consciência entregaria seus cabelos a um cabeleireiro que apenas conhece sobre cortes, ao passo que não teria dúvidas para freqüentar um outro que sabe fazer cortes incríveis.  Digamos que o conhecimento é o lado teórico do saber, enquanto que o saber é um conhecimento essencialmente prático.
            Com a brincadeira é igual, há aqueles que conhecem sobre o brincar e os que sabem brincar. Neste sentido, conhecer não é suficiente, pois brincar exige disponibilidade, envolvimento e ação. Precisa estar presente, inteiro, de corpo todo. As crianças e os animais fazem isso muito bem, mas para nós adultos é uma missão quase impossível. Raramente nos dispomos à brincadeira, estamos sempre apressados, sempre cansados, sempre sérios, sempre adultos! Aos poucos vamos deixando de brincar e nos esquecemos do prazer e da alegria que a brincadeira proporciona.
            Ficamos apenas com o conhecimento e deixamos o saber e sem saber nos entristecemos sem saber o porquê.