quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Tudo tem seu tempo



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Candido Portinari. "Menino com pião". 1947. Óleo/tela


Ontem estive em reunião com os pais das crianças da turma de cinco anos, a qual compartilho com outra professora: uma colega fantástica, com quem aprendo muito sobre como cuidar.
Entre os vais e vens da pauta, um pai em uma dúvida sincera me perguntou:
- Meu filho vai sair alfabetizado desta escola?
            Na ocasião, preferi não entrar em uma discussão teórica sobre os sentidos da palavra alfabetização e todos seus descendentes. Por um istante não soube de pronto o que responder ao pai, mas nada que ultrapassasse mais de dez segundos... pode ser que tenha demorado um pouco mais, pois diante minha hesitação, o pai perguntou-me novamente, porém com outras palavras:
- Meu filho vai sair lendo e escrevendo?
Embora manifesta apenas por ele, a pergunta se fazia presente no olhar de cada um dos adultos, que atentos aguardavam a minha resposta.
Embora a questão da alfabetização na escola de educação infantil, seja tema já superado entre estudiosos da infância, ainda é alvo de discussões entre pais e professores. Para mim, é uma questão de escolha.
A expectativa de vida dos brasileiros têm aumentado dia-a-dia,de modo que a cada dia temos mais dias de vida. Vida que pode durar em muitos casos mais de noventa anos. É muito tempo para um corpo tão frágil como o dos humanos.
Pois bem, toda vez que vejo um velho (não gostos de eufemismos) imagino como seria se cada um deles resolvessem passar a tarde desenhando sem se preocupar com a hora ou com a quantidade de folhas gastas, se pintassem seus corpos com tintas e saíssem correndo aos risos, pelados, se brincassem na chuva ou fizessem comidinha de barro, se falasse com as coisas como se estas tivessem vida ou que girassem em torno de si próprio até cair no chão...
Com toda certeza não seriam bem vistos. E na pior das hipóteses diagnosticados como dementes ou portadores de alguma doença senil.Tais atitudes também não são bem aceitas entre adultos e quando ocorrem denominamos “loucura”. Contudo, há um universo onde isto é possível, onde a fantasia é bem-vinda, onde o tempo é determinado pelo prazer, onde a censura pouco importa. Seu nome?
Infância.
Ah! Sobre a pergunta do pai?
- Tudo tem seu tempo!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Os sete equívocos da educação

A ampliação de vagas na educação básica surtiu alguns efeitos no cenário educacional brasileiro. De um lado, possibilitou o acesso de milhares de crianças aos bancos escolares, do outro, favoreceu o crescimento de cursos vapt-vupt de formação de professores, cujo interesse maior é despejar no mercado a mão – de - obra necessária para a manutenção do sistema. E assim é... incapazes de agir criticamente e algumas vezes com deficiências significativas no próprio processo “alfabetizatório” rumam para as escolas para perpetuar alguns ou todos (nos casos mais graves) o que denominei de “os sete equívocos da educação”.

O primeiro deles refere-se a idéia de que “não há distinção entre professor e aluno", ou “somos todos iguais”. O segundo diz respeito ao emprego do conceito psicológico de “frustração e trauma”; o terceiro, a “infantilização” das crianças” ( parece pleonástico, mas não é) ; o quarto, a criança como um “vir – a - ser”, algo que ainda não é, mas que um dia tornar-se-á: adulto; quinto, está ligado ao desejo de “ensinar a escrita, antes que se opere o milagre da fala” sexto, “confiar que toda educação vem de casa”; o sétimo, mas não menos importante, “relegar a alegria do brinquedo ao último plano”.

Se pensarmos a educação como um processo de transmissão dos conhecimentos construídos ao longo das gerações e transmitidos às gerações mais novas por aqueles que pertencem a uma geração distinta, torna-se imperativo que os professores assumam a diferença existente entre quem ensina e quem aprende. Isto não anula a possibilidade de uma aprendizagem conjunta, porém, valida a autoridade da voz de quem fala em nome da cultura.

A insuficiência da pedagogia enquanto ciência faz com que esta área se aproprie de conhecimentos construídos por outras ciências, o que é muito bom. São numerosas as contribuições da sociologia, da biologia, da história entre outras ciências que têm os seres humanos como objeto de observação. Entretanto, conceitos psicológicos como os de “frustração” e “trauma” deveriam ser abolidos do ambiente escolar. Isto não impede que o professor tenha um olhar sensível sobre o aluno, mas que tenha a certeza de que a educação consiste no recalque e que as repressões são necessárias para a construção do eu e para a busca da satisfação nos elementos da cultura. O NÃO é necessário, ele nos guia à liberdade e nos dá a disciplina, caminho para a comunhão.

A expressão “infantilização das crianças” , como já referido acima, pode parecer um pleonasmo, mas não é. Diz respeito ao olhar adultocêntrico sobre as ações e manifestações infantis. Neste caso, por considerarem que as crianças são incapazes de compreender a língua materna do modo como esta se apresenta, inventam vozes e criam mudanças fonéticas inconcebíveis em um ambiente adulto. A infantilização também se configura pela imposição de músicas infantis cantadas em tons agudíssimos e por filmes cujo foco é a repetição e o treino. Tais ações manifestam a concepção de que a criança é um “vir-a ser”, o quarto aspecto desta discussão. Em posição oposta, está a pedagogia da infância, cujo princípio está em observar, analisar e discutir as manifestações próprias das crianças, as quais possuem especificidades de pensamento e numerosas peculiaridades. Diante tal afirmação, o pensamento de que as crianças nada sabem torna-se impraticável.

Ensinar a escrita é de fato uma das mais belas funções da escola, entretanto, há de ser tem mente que está é o fim de um processo que se inicia com a aprendizagem da língua materna (ver link “Estudos da Língua Falada” uma entrevista do Professor Ataliba Teixeira de Castilho).

Uma das funções da escola é fazer a passagem do privado para o público, do particular para o coletivo. Dessa maneira, a escola é responsável por inserir os indivíduos na cultura, a fim de que possam construir-se como sujeitos, capazes de exercer seus direitos e cumprir seus deveres. A educação não pode ser encarada como algo estático, mas como um processo de ensino e aprendizagem que está em constante movimento e que quando bem sucedido pode nos livrar dos dissabores da barbárie.

Por fim, a alegria do brinquedo! Que ele esteja sempre presente, pois é a ferramenta que nos liga aos dois mundos, o dentro e o de fora.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

EDUCATE TE


Educate te

Educate te” em latim quer dizer educar a si próprio. A expressão é bem polêmica e antes de prosseguir com minha escrita, convém ressaltar que tenho a consciência de que o título deste blog e do escrito em questão pode despertar furor em alguns educadores, principalmente àqueles que se identifiquem com a filosofia do mestre Paulo Freire, quem afirmou categoricamente: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo." Compreendo o sentido da colocação freiriana e me ponho como admiradora  da obra e dos pressupostos por ele deixados, porém,  após uma década de magistério a paródia sobre a inscrição socrática faz todo sentido.
Assim, com um olhar de observador capcioso permito-me a seguinte alusão: educar implica na transmissão dos conhecimentos adquiridos pela humanidade ao longo da civilização e para que esses saberes passem de geração em geração é necessário que o transmissor seja pleno conhecedor da memória coletiva do grupo ao qual pertence e também de sua história pessoal, antes de educar aos outros é necessário conhecer a si mesmo ou melhor saber de si próprio, de seus desejos, medos e satisfações.
            Ouço coordenadores de escola inconformados com a prática de alguns de seus professores. Afirmam não compreender porque mesmo depois de inúmeros cursos de capacitação e reciclagem (nomes pouco próprios para se referir à formação de pessoas) alguns professores seguem exercendo seu fazer do mesmo modo, por anos e anos, até que a aposentadoria os separe. A constatação é legítima, pois há uma distância significativa entre conhecer e saber. Pode-se conhecer por meio dos livros, através da televisão ou do computador, mas saber não, saber tem a ver com o corpo, com as vivências desse corpo e com tudo aquilo que se permite saborear e viver.
            Além de português e matemática, a escola deveria se preocupar com outras coisas. Rubem Alves, em A casa – A escola diz: “Assim são os saberes: ferramentas. Ninguém aprende ferramenta para aprender ferramenta. O sentido da ferramenta é o seu uso na prática. O sentido de um saber é seu uso na prática. Rubem Alves, em A casa – A escola diz: “Assim são os saberes: ferramentas. Ninguém aprende ferramenta para aprender ferramenta. O sentido da ferramenta é o seu uso na prática. O sentido de um saber é seu uso na prática, assim, o sentido de educar a si próprio é aprender sobre si para saber do outro e no encontro com o outro saber cada vez mais de si.
            Neste sentido, compartilho do mesmo sentimento que Rubem Alves quando este afirma que a escola deveria ensinar outras coisas. Além do bom  e velho português, poderia se ensinar  sobre a sabedoria da memória, sobre a suavidade da alegria , sobre o exercício da paciência, sobre o valor da  escuta, inclusive, da escuta da voz do coração.
            É por isto e por outras razões que insisto: EDUCATE TE.