terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Os sete equívocos da educação

A ampliação de vagas na educação básica surtiu alguns efeitos no cenário educacional brasileiro. De um lado, possibilitou o acesso de milhares de crianças aos bancos escolares, do outro, favoreceu o crescimento de cursos vapt-vupt de formação de professores, cujo interesse maior é despejar no mercado a mão – de - obra necessária para a manutenção do sistema. E assim é... incapazes de agir criticamente e algumas vezes com deficiências significativas no próprio processo “alfabetizatório” rumam para as escolas para perpetuar alguns ou todos (nos casos mais graves) o que denominei de “os sete equívocos da educação”.

O primeiro deles refere-se a idéia de que “não há distinção entre professor e aluno", ou “somos todos iguais”. O segundo diz respeito ao emprego do conceito psicológico de “frustração e trauma”; o terceiro, a “infantilização” das crianças” ( parece pleonástico, mas não é) ; o quarto, a criança como um “vir – a - ser”, algo que ainda não é, mas que um dia tornar-se-á: adulto; quinto, está ligado ao desejo de “ensinar a escrita, antes que se opere o milagre da fala” sexto, “confiar que toda educação vem de casa”; o sétimo, mas não menos importante, “relegar a alegria do brinquedo ao último plano”.

Se pensarmos a educação como um processo de transmissão dos conhecimentos construídos ao longo das gerações e transmitidos às gerações mais novas por aqueles que pertencem a uma geração distinta, torna-se imperativo que os professores assumam a diferença existente entre quem ensina e quem aprende. Isto não anula a possibilidade de uma aprendizagem conjunta, porém, valida a autoridade da voz de quem fala em nome da cultura.

A insuficiência da pedagogia enquanto ciência faz com que esta área se aproprie de conhecimentos construídos por outras ciências, o que é muito bom. São numerosas as contribuições da sociologia, da biologia, da história entre outras ciências que têm os seres humanos como objeto de observação. Entretanto, conceitos psicológicos como os de “frustração” e “trauma” deveriam ser abolidos do ambiente escolar. Isto não impede que o professor tenha um olhar sensível sobre o aluno, mas que tenha a certeza de que a educação consiste no recalque e que as repressões são necessárias para a construção do eu e para a busca da satisfação nos elementos da cultura. O NÃO é necessário, ele nos guia à liberdade e nos dá a disciplina, caminho para a comunhão.

A expressão “infantilização das crianças” , como já referido acima, pode parecer um pleonasmo, mas não é. Diz respeito ao olhar adultocêntrico sobre as ações e manifestações infantis. Neste caso, por considerarem que as crianças são incapazes de compreender a língua materna do modo como esta se apresenta, inventam vozes e criam mudanças fonéticas inconcebíveis em um ambiente adulto. A infantilização também se configura pela imposição de músicas infantis cantadas em tons agudíssimos e por filmes cujo foco é a repetição e o treino. Tais ações manifestam a concepção de que a criança é um “vir-a ser”, o quarto aspecto desta discussão. Em posição oposta, está a pedagogia da infância, cujo princípio está em observar, analisar e discutir as manifestações próprias das crianças, as quais possuem especificidades de pensamento e numerosas peculiaridades. Diante tal afirmação, o pensamento de que as crianças nada sabem torna-se impraticável.

Ensinar a escrita é de fato uma das mais belas funções da escola, entretanto, há de ser tem mente que está é o fim de um processo que se inicia com a aprendizagem da língua materna (ver link “Estudos da Língua Falada” uma entrevista do Professor Ataliba Teixeira de Castilho).

Uma das funções da escola é fazer a passagem do privado para o público, do particular para o coletivo. Dessa maneira, a escola é responsável por inserir os indivíduos na cultura, a fim de que possam construir-se como sujeitos, capazes de exercer seus direitos e cumprir seus deveres. A educação não pode ser encarada como algo estático, mas como um processo de ensino e aprendizagem que está em constante movimento e que quando bem sucedido pode nos livrar dos dissabores da barbárie.

Por fim, a alegria do brinquedo! Que ele esteja sempre presente, pois é a ferramenta que nos liga aos dois mundos, o dentro e o de fora.

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