terça-feira, 5 de abril de 2011

Com olhos de criança

           

Candido Portinari, Meninos Brincando, 1958.
           
            Com os anos tenho aprendido que há muito mais coisas a se aprender na escola de educação infantil do que eu poderia imaginar. A verticalização dos conhecimentos sobre esta etapa da educação básica, bem como as pesquisas sobre criança, cultura e infância têm contribuído para amenizar o efeito de anos de uma educação infantil assistencialista, compensatória e pré-escolarizante.
            Estamos caminhando para uma concepção de pedagogia da infância que respeita as especificidades das crianças, compreendendo-a como sujeito histórico e social, portadora de desejos e produtora de cultura. À luz do paradigma acima descrito tenho sido diariamente convidada a perceber o mundo pelos olhos das crianças. No início pensei estar sofrendo de alguma enfermidade grave. Consultei minha analista, dobramos as sessões de análise, mas permaneci longe de qualquer resposta lógica e objetiva, tal como eu esperava.
            Em busca de uma cura milagrosa para minha doença, pensei em remédios, tomei floral, fiz sessões de Reik, acupuntura e nada. Permaneci perturbada pela enxurrada de sensações, pela incansável disposição de brincar e pela crença ingênua na salvação da humanidade, assim como nos contos de fada. Hoje, ao ouvir a leitura de um texto de Rubem Alves, no qual ele narrava a situação de uma paciente que, como eu acreditava estar louca, pude então compreender que o mal que me acomete está nos olhos. Descobri que tenho andado com olhos de criança!
            De repente o tempo do relógio tornou-se inimigo, as tardes depois da chuva se converteram em amantes, as brincadeiras com água, barro e folhas, as melhores amigas, os livros, grandes companheiros, as rodas de conversa, um desafio, a escrita do nome, uma conquista, o reconhecimento das letras, uma surpresa, a curiosidade, a companheira, um sorriso, uma dádiva divina.
            Desvendado o enigma de meu mal, inicio a busca pela cura ao contrário. O estado em que me encontro é tão benéfico que quero permanecer louca.

Um comentário:

  1. Ana, que lindo este texto!!! Me fez lembrar de minha jornada pela educação e me levou as lágrimas. Lágrimas que só quem também já se achou louca, consegue entender... Que bom que existem Professores iguais a você, que não desistem diante das dificuldades do dia-a-dia. Diante deste texto, permita-me te pedir um favor: continue louca.
    Beijos

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